sexta-feira, 20 de março de 2009

INDISCIPLINA EM SALA DE AULA: COMO RESOLVER?


Honestidade e segurança são palavras-chave para o bom convívio na sala de aula!


O sino do “bendito” intervalo soou mais uma vez aos ouvidos dos alunos e professores. Se reproduzissem o som dos pensamentos de todos, seria um grito aliviador: finalmente! Os estudantes vão para o pátio e os professores para a sala reservada, onde tudo começa! As reclamações sobre indisciplina não são mais comuns, são rotineiras. Os educadores sentam e desabafam mutuamente: fazem observações desalentadoras sobre o aluno que fala o tempo todo, do que acha que a combinação mesa e cadeira é a própria cama, do que só faz palhaçada, do que ri o tempo inteiro, do que finge que está lendo, do que joga papel, do que esqueceu o livro de novo, dentre muitos outros estereótipos!

E o sino bate para a temida volta à sala! Mais uma vez, se fosse possível ouvir os pensamentos, poderíamos escutar coisas do tipo: Ah, não...., Já bateu o sino?, Ai, eu quero embora..., Agora é aquela aula chata..., Não aguento mais tanto barulho, Se não tem outro jeito...., Agora tenho que ir para aquela turma bagunçada, e outros mais.

É verdade... é muito ruim chegar em uma sala desorganizada, onde não há respeito!
E após várias experiências, nós, professores, temos que reavaliar nossa didática e a forma com que temos conduzido nosso cotidiano profissional. Afinal, pode chegar o dia em que o despertador irá tocar e ficaremos deitados por exaustão de pensar em mais um dia de trabalho em uma sala que só nos desgasta fisicamente e emocionalmente.

Como vencer isso? Não há uma fórmula, mas é muito provável que se a indisciplina na sala pretende ficar até o final do ano, medidas precisam ser tomadas pela direção, pela coordenação, mas principalmente, pelo professor, pois ele é a autoridade em sala de aula.

O primeiro passo é esse: nós mesmos reconhecermos que somos autoridades dentro de sala (porém, não vamos confundir autoridade com autoritarismo). Logo, temos que nos impor como tal, a fim de estabelecermos regras próprias para que haja bom convívio. Dessa forma, se fizer uma promessa para a turma, cumpra, pois isso passa segurança e confiança aos alunos. Se errar alguma nota ou em uma atitude, assuma e peça desculpas em público, o que demonstra honestidade, humildade e sabedoria, qualidades admiráveis. Seja amigável e informal, mas dentro de um limite em que o aluno ainda saiba que você é primeiramente professor dele e não amigo. Converse com os alunos abertamente e pergunte se está claro o que está sendo explicado. Se observar que os alunos estão desatentos ou que não entenderam, chame a atenção deles e explique de outra forma e note se surgiu efeito. É importante que o educador esteja pensando na sua didática e procure diversificar as aulas com o intuito de melhorar o rendimento da turma e deixar as aulas mais prazerosas e menos cansativas para ambos.

E mais um ponto fundamental: a turma segue os exemplos que nós damos, então, devemos medir cada ação tomada, a qual não pode ser bruta demais (Saia da sala!), nem temperamental ao extremo (Tudo bem, mas não faça mais isso!).

É importante que os alunos reconheçam aos poucos a forma como o educador conduz sua aula, ou seja, qual a metodologia de ensino imposta. Caso a turma não o faça, é sinal de que está na hora do professor pensar numa outra forma de lidar com determinada turma e a partir desse fato criar novos métodos de ensino, adotar um caderno de anotações, aplicar outros tipos de avaliações (inclusive de si mesmo), adotar uma diferente forma de passar o conteúdo, e assim por diante.

Por Sabrina Vilarinho
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola

“Os professores não aprendem a dar aula”

Entrevista: Claudio de Moura Castro, ECONOMISTA

Respeitado como um dos principais pensadores da educação no Brasil, o economista Claudio de Moura Castro acredita que o ensino brasileiro padece de um ciclo vicioso: como a maior parte da sociedade brasileira é educada precariamente, se conforma com a baixa qualidade das escolas. E um dos fatores para a manutenção desse quadro, segundo o pesquisador e colunista da revista Veja, é o processo atual de formação dos professores. Confira a entrevista concedida na sexta-feira, por telefone, desde seu escritório em Belo Horizonte:

Zero Hora – Por que a educação brasileira não avança como desejado?

Claudio de Moura Castro – Porque começa mal. O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) mostra que menos da metade dos alunos chega à 4ª série funcionalmente alfabetizada. O problema, então, começa já no primeiro ano do Ensino Fundamental. Não adianta consertar o que vem depois. A grande reforma universitária no país seria reformar a 1ª série.

ZH – O que não funciona?

Moura Castro – Uma pesquisa publicada pela revista Veja mostra 80% de satisfação de pais, alunos e professores com a escola no Brasil. E, politicamente, tudo o que você precisa fazer para melhorar a educação é maldade: o aluno tem de se dedicar mais, a prova tem de ser mais difícil, o professor tem de trabalhar mais, tem de corrigir mais, o diretor tem de ser sargentão. Tudo isso tem custo. Por que o secretário de educação ou o diretor de escola vai queimar o capital político dele, se o próprio público não vê a educação como um problema?

ZH – Mas não há uma parcela importante da população que vê?

Moura Castro – Só os educados sabem que a educação não é boa. Como são muito poucos, acabam não contando. Fica difícil fazer algo que envolve custo se pouca gente acha que precisa. Essas pessoas acham que está bom porque a situação física na escola hoje é melhor, tem computador. Só que a sala de aula continua uma porcaria.

ZH – Por quê?

Moura Castro – Os professores, com honrosas exceções, são mal recrutados. Sentem-se desprezados, mal pagos, maltratados. Os alunos que entram para fazer pedagogia são os mais fracos. Olha os vestibulares, a pedagogia está na rabeira. Os professores não aprendem direito o conteúdo e não aprendem a dar aula durante o curso.

ZH – Aprendem o quê?

Moura Castro – Grandes teorias, Vygotsky, Piaget, que foi um cara que nunca falou de educação. Falou da psicogênese do conhecimento. O que interessa é como deve ensinar verbo irregular, como deve formular uma prova, como fazer um plano de aula. Os mais antigos dizem que antes aprendiam a dar aula. Hoje tem uma barreira, tem uma gosma ideológica fortíssima, uma grande resistência à mudança e uma recusa em ensinar aos professores aquilo que eles devem ensinar. Hoje não pode haver acusação pior do que chamar um professor de conteudista, de ter currículo a ensinar. Aí tem outro problema grave do professor, a resistência a uso de materiais estruturados.

ZH – O que são?

Moura Castro – São obras que entram no detalhe de como conduzir os assuntos de aula, passo a passo. É que há uma convicção de que esse tipo de material não pode, o professor é que tem de inventar a aula. E a minha estimativa é de que entre 2% e 3% dos professores têm competência para inventar aula. E, mesmo se tiverem, não têm tempo para isso.

ZH – Que saída o senhor vê para isso?

Moura Castro – Sou moderadamente otimista. A coisa mais importante que aconteceu nos últimos anos foi o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que existe escola por escola, município por município. E os diretores todos sabem o Ideb da sua escola. Eu fui na pior escola da pior periferia de Belo Horizonte, e a diretora lá sabia qual era o Ideb dela. Então, hoje você tem uma medida, uma espécie de GPS da educação.

ZH – Falta usar esses dados?

Moura Castro – Falta os pais aprenderem a apertar mais a escola: “Como é, esse Ideb de vocês não vai avançar?”. Os dados estão referenciados para permitir a comparação com outros países, então dizem quantos pontos tem de fazer para chegar a um nível de primeiro mundo.

ZH – Hoje há um pacto de mediocridade?

Moura Castro – É, é um pacto de mediocridade. Na verdade, nem é isso, porque acham que está bom.

Publicado em 01/02/2009

ZERO HORA

PROVA BRASIL: AVALIAÇÃO DÁ UMA MÁ NOTÍCIA AO ENSINO GAÚCHO


Seis em cada 10 municípios gaúchos avaliados pela Prova Brasil, aplicada pelo Ministério da Educação, não atingiram metas de aprendizagem em língua portuguesa estabelecidas pelo movimento Todos pela Educação para a 4ª série do Ensino Fundamental. Também foram avaliados estudantes de 8ª série nas disciplinas de língua portuguesa e matemática.

Os dados foram calculados a partir do resultado da Prova Brasil de 2007, teste aplicado pelo Ministério da Educação a cada dois anos nas escolas da rede pública (municipal, estadual e federal) da zona urbana do país com mais de 20 alunos nas séries avaliadas.

O percentual de municípios do Estado que não atingiu a meta na 4ª série (58,5%) é quase o dobro daqueles que não chegaram à meta na 8ª série (36,2%). Esse desempenho surpreendeu os especialistas.

Seis em cada 10 municípios gaúchos avaliados pela Prova Brasil, aplicada pelo Ministério da Educação, não atingiram metas de aprendizagem em língua portuguesa estabelecidas pelo movimento Todos pela Educação para a 4ª série do Ensino Fundamental. Também foram avaliados estudantes de 8ª série nas disciplinas de língua portuguesa e matemática.

Os dados foram calculados a partir do resultado da Prova Brasil de 2007, teste aplicado pelo Ministério da Educação a cada dois anos nas escolas da rede pública (municipal, estadual e federal) da zona urbana do país com mais de 20 alunos nas séries avaliadas.

O percentual de municípios do Estado que não atingiu a meta na 4ª série (58,5%) é quase o dobro daqueles que não chegaram à meta na 8ª série (36,2%). Esse desempenho surpreendeu os especialistas.

O QUE É A PROVA BRASIL ?



São testes que avaliam língua portuguesa (competência em leitura) e matemática. A primeira edição, em 2005, foi realizada em 5.387 municípios do país. Mais de 3 milhões de alunos, distribuídos em cerca de 40 mil escolas públicas urbanas, foram avaliados. Além dos testes, os alunos respondem a um questionário com informações sobre seu contexto social e capital cultural.

A interpretação da Prova Brasil, com a análise dos resultados das avaliações aplicadas pelos professores, permite que equipes escolares revejam projetos pedagógicos e que os docentes possam definir mais claramente metas de aprendizagem e objetivos de ensino. Para gestores e governantes, a Prova Brasil oferece informações que possibilitam uma visão global do ensino, auxiliando gestores nas tomadas de decisões e no direcionamento de recursos técnicos e financeiros para promover a melhoria da qualidade da educação.
O QUE A PROVA BRASIL AVALIA?
Aplicada em alunos da 4ª e 8ª séries, contém itens que permitem medir a competência leitora em língua portuguesa e a competência em resolução de problemas em matemática. Juntando os níveis de aprendizagem atingidos pelos alunos de determinada unidade escolar, a Prova Brasil apresenta uma fotografia das escolas, das redes de ensino e do país.
COMO É ESTABELECIDA A META?
A partir do percentual de alunos que obtiveram conhecimentos mínimos na primeira aplicação da Prova Brasil, em 2005, a ONG Todos Pela Educação estabeleceu metas por municípios. A ideia é que todos tenham condições de alcançar a meta nacional, prevista para 2022, de que 70% dos alunos atinjam pontuação mínima para um aprendizado considerado adequado. Para cada município, estabeleceu-se uma meta. A projeção leva em consideração uma curva de crescimento, que começa suave e se torna mais ambiciosa no futuro.
POR QUE NÃO APARECEM TODOS OS MUNICÍPIOS NA LISTA?
Porque a participação é por adesão e nem todos municípios participaram da prova. A avaliação é aplicada em áreas urbanas e envolve escolas públicas (municipais, estaduais e federais).

A escola pública é a Geni

A sociedade brasileira tem criticado a escola com todas as suas forças, desvalorizado o profissional e evitando enfrentar o problema de uma vez por todas

Renata Ferreira Rios, professora de história

Atualmente vivemos em sociedades complexas, onde a distribuição urbana tradicional, com a praça rodeada pela prefeitura, igreja, clube, teatro e escola não descreve mais as intenções desta sociedade: governar, catequizar, reunir, divertir e ensinar. Hoje temos shoppings, land houses, locadoras de DVDs, fast food, academias de ginástica, supermercados, butiques de roupas, sapatos e pães, clínicas para os mais variados fins, enfim, é uma rede de atrativos e funções interminável. E a escola onde fica? À margem deste processo, assim como a prefeitura, a igreja e até a praça (o clube e o teatro foram redimensionados, mas se sustentam, pois estão vinculados com o produto da hora: a diversão).

A escola, a partir da segunda metade do século 20, vem sendo permanentemente criticada dentro da sociedade, o que reflete no valor que lhe é empregado e na sua efetiva função social. A década final daquele século e estes primeiros anos do 21 apresentam de forma gritante este desgaste crônico que vem corroendo o sistema de ensino brasileiro. Primeiro, a substituição da aquisição cultural escolar pela da mídia, descartável e questionável (inclusive quanto ao conceito de cultura!); depois, a sistemática desvalorização do profissional desta instituição, desestabilizando a própria credencial de profissional atribuída ao professor; por fim, os meios de comunicação, que corroboram com a depreciação do professor e da escola, veiculando por todos os seus meios, matérias, muitas vezes tendenciosas, em que a crise do ensino existente hoje é fruto basicamente do despreparo profissional e do descaso deste por seus alunos ou pelo próprio conhecimento. Ainda assim, o ensino é ingrediente farto na maioria dos discursos políticos, principalmente em épocas eleitorais. Por quê?

O ensino é a Geni da nossa sociedade complexa. Sua função é inevitável, seja para dar noções de convívio social, seja para ensinar os princípios básicos da matemática e da escrita, seja para formar futuros profissionais (sem comentários acerca da qualificação, que perpassa a construção pessoal e sua integração no coletivo), a escola, instituição que concentra os elementos cardeais do ensino: professores, alunos, salas de aula, móveis, materiais escolares, funcionários da educação..., é o lugar pelo qual todo cidadão deve e deveria passar alguns anos de sua vida. Seria na escola que a sociedade deveria construir e sustentar suas amarras, pois nem todos seremos médicos, políticos ou mesmo professores, mas todos fomos alunos.

Mas acontece o inverso. A escola tornou-se o único local onde a democracia é vociferada. Tudo lá e de lá pode ser dito. Políticos fazem promessas e depois repassam às direções e funções escolares a responsabilidade pela crise e pela busca de solução; pais em geral contribuem com críticas (quando não com ofensas), mas dificilmente com soluções; alunos desrespeitam professores, colegas e a estrutura física empregada para o ensino, não entendem e não veem razão para estarem ali; os meios de comunicação que buscam vender seus jornais, revistas ou captarem telespectadores para seus telejornais, divulgam matérias muitas vezes suspeitas, com interpretações distorcidas, em que questionam atuação e qualidade profissional de professores, desmerecem reivindicações por melhores salários ou condições de trabalho, e glorificam a função altruísta do professor como vocação, abnegação e complacência. Não tem escapatória, todos jogam pedra na Geni!

Nesta sociedade em crise, em que falta casa, comida, saúde, emprego, afeto, não falta “lugar na escola”. Toda criança tem direito a ela (assim como deveria ter direito a tudo mais aqui citado) e agora parece que a escola tem que suprir os demais. É na escola que a criança deve receber o afeto que lhe falta fora dela, a comida que não lhe é oferecida em outro lugar, o cuidado com a saúde que não é observado por mais ninguém, e ainda alfabetizar e desenvolver conhecimentos para dar condições a este jovem de ingressar na sociedade de trabalho qualificado. A escola pública foi transformada num poço de bondade.

Então, quando os governos desejam verificar a quanto anda a qualidade do ensino, aplicam uma prova, na qual crianças oriundas de não lares, famintas de comida e motivos, devem responder a questões as quais não perguntam sobre sua vida nem lhe indicam razões para ser quem são. As respostas dadas por estes jovens serão entendidas como as respostas da escola e de seus professores, e que acabam por não atingir aquilo que foi externamente entendido como obrigação da instituição pública referida: obtenção de uma classificação quantitativa positiva. A escola pública encobre as demais necessidades, sem conseguir realizar as suas próprias. O sacrifício é em vão e não há reconhecimento. Da criança de um mundo de fome e miséria, sem razões para responder às questões da prova, transferem o fracasso para a escola, que não a transformou num aluno competente e capaz. Estaria aqui, então, uma razão, entendida pelos governos e estendida à opinião pública, de manter baixos os salários e as verbas do ensino?

Porém, há um paradoxo misterioso nisto tudo: qual a razão da educação ser objeto concorrido nos discursos políticos em campanhas e objeto de desprezo fora delas? Um povo bem-educado (no sentido formal) não iria retribuir àquele que lhe permitiu acesso a esta boa educação? Cidadãos bem-preparados não formariam profissionais mais qualificados e, portanto, otimizariam suas funções e os recursos utilizados (o que também abarcaria o meio ambiente)? Será que não há respostas para nenhuma destas questões?

Não há dúvida, a educação está em crise, e com ela a escola e seus profissionais. A onda de massificação massificada de tudo, que nessas últimas décadas sacrifica a qualidade, não sendo mais este um adjetivo com verdadeiro significado, cobre o sistema de ensino até o pescoço, mal o mantendo vivo. A escola deve ser resgatada do meio dessa lama toda que a asfixia, não para retomar o que foi há décadas, mas para estar em dia com o contexto no qual vivemos. Não é com críticas e xingamentos que isso será feito, nem da noite para o dia, todavia o caminho tem que ser traçado e o primeiro passo dado. Devemos nos perguntar qual a função da escola, se é a de preencher os vazios deixados pelo governo e por demais instituições sociais ou desempenhar um papel exclusivo, de ensinar, dar disciplina para que as ideias não se percam na bagunça dos pensamentos, desenvolver o desejo em aprender, permitir que o tempo de aprendizagem seja usado para isso mesmo, não para desordem, desconstrução ou esvaziamento. A escola deve ser escola e não outra coisa inominável na qual está se tornando.

Parece que há um ciclo de formação de opinião que precisa ser rompido. Enquanto nenhuma voz se erguer mais alto que as demais e argumentar que a escola não é a Geni, a educação ainda será a escarradeira social, o saco de pancadas político, e a prostituta do jornalismo.


Depois de mais de um ano trabalhando com educação, mas fora da sala de aula, retorno ao meu elemento. Este fragmento de poesia de Neruda sintetiza minha necessidade.




"Acho que o homem deve viver em sua pátria e creio que o desarraigamento dos seres humanos é uma frustração que de uma maneira ou de outra entorpece a claridade da alma. Eu não posso viver senão em minha própria terra. Não posso viver sem pôr os pés, as mãos e o ouvido nela, sem sentir a circulação de suas água e de suas sombras, sem sentir como minhas raízes buscam em seu barro pegajoso as substâncias maternas."



Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos... Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas Américas encrespadas, buscando batatas, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca mais se viu no mundo... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais as que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam a terra ficava arrasada... Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras, como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras. (Confesso que vivi, p.58)